Estamos às portas da solenidade central do ano litúrgico, e que é central também em nossa fé: a celebração anual da Páscoa. Nós começamos neste Domingo de Ramos a maior de todas as semanas para os cristãos. Nela nós celebramos a paixão, morte e ressurreição do Cordeiro de Deus, Jesus Cristo, Homem e Deus. Desta semana tão especial decorrem todas as outras celebrações da vida da fé em nossa liturgia. Fazer Páscoa, viver bem este tempo de graça é imperativo para quem segue Jesus, fazendo da própria vida a grande celebração ao Deus que nos criou e, chegado o ápice de sua revelação, nos redimiu em Cristo, Senhor Nosso.
A Mãe Igreja nos apresenta a liturgia como momento por excelência para a vivência da fé. A liturgia não é apenas o rito em que é celebrada e, de maneira alguma um teatro acerca de coisas passadas. Na liturgia atualizamos o Mistério celebrado. Ela transcende a nossa própria existência. Aquilo que é divino, inefável, entra na imanência humana, do tempo e espaço, de maneira maravilhosa e misteriosa. Em última análise é a celebração da fé, na comunidade Igreja, que dá sentido a toda a nossa existência. A maneira de viver a Semana Santa é vivenciar os sacramentos, de celebrar de corpo e alma a liturgia sagrada. Experimentamos que somos frágeis e pecadores, por isso mesmo é que necessitamos de nos aproximar do Senhor que espera a nossa presença pródiga na vivência de seus mistérios. Aproximar-se dos sacramentos é viver a graça de Deus, derramada abundantemente pela “aspersão do sangue do Cordeiro”.
Outra maneira de bem viver a Semana Santa é tomar consciência de sua importância na modificação de nossa rotina. Aquele que crê é chamado a vivamente participar de todas as celebrações da Semana Santa com carinho e devotamento, cônscio de que aquilo que a Igreja realiza em gestos é, na realidade, algo que a supera em muito. Por isso mesmo é que, providencialmente, temos mais tempo com os feriados de Semana Santa. É para termos mais oportunidade de participar das celebrações especiais, que, por serem mais longas e em horários diferentes, deve contar com a nossa disposição em aproveitar cada instante para mergulhar no mistério da Páscoa. Às vezes as pessoas procuram recorrer a Deus, ir à sua Divina Presença apenas pressionado pela necessidade ou pelos problemas. Essa postura de imaturidade na vida da fé deve nos questionar sobre a nossa caminhada cristã: é imperioso para quem crê ir ao encontro de Deus em todo o tempo, tanto no nosso dia a dia como especialmente na Semana Santa.
As celebrações de que iremos participar irão, pouco a pouco, entregando para nós os sinais que devem ter o seu significado aprofundado e renovado: ramos, profissão de fé, mandamento do amor, santos óleos, renovação das promessas batismais, a luz da ressurreição, o canto do Aleluia, o hino de louvor e tantos outros. O Tríduo Pascal é a grande celebração da Páscoa, que iremos sempre renovar a cada Missa de que participamos. Cristo que celebra a Ceia Pascal, Cristo que se entrega na Cruz, Cristo que está entre nós Ressuscitado. Ele que é nosso alimento pela Palavra e pela Eucaristia nos reúne em comunidade para que O testemunhemos com a nossa vida e missão.
Com a sua entrega à morte de Cruz, Cristo nos redime do pecado, como nos recorda São Paulo quando escreve que Deus predeterminou Cristo “a servir como instrumento de expiação” (Rm 3, 25), para eliminar o pecado.
Viver a Semana Santa é, também, identificar a nossa vida ao mistério da cruz de Cristo. O beijo na Cruz na Sexta-feira Santa será justamente a certeza de aceitarmos o Cristo que deu a vida por nós e aceitarmos as nossas cruzes iluminadas por Ele, sabendo que com Ele morreremos para com Ele ressuscitarmos. Morrermos ao pecado para ressuscitados para uma nova vida. Se queremos segui-Lo, não podemos ter medo de que nossa vivência se pareça à dele. A Semana Santa é tempo de identificarmos as cruzes da nossa caminhada com aquela cruz evocativa que o Mestre levou sobre os ombros.
Iniciamos a Semana Santa também com a Jornada Diocesana da Juventude! A tradição iniciada com o Papa João Paulo II, e que aos poucos se expandiu pelo mundo com as Jornadas Mundiais da Juventude, é celebrada em todas as Dioceses neste final de semana. Iremos aprofundar o tema da Jornada de Madri, chamando os jovens a se aprofundarem e aprofundarem suas raízes em Cristo Jesus para permanecerem firmes na fé diante de um mundo em constante mudança.
É a Igreja que se renova também na participação dos jovens, sentinelas da manhã, despertos e atentos aos sinais dos tempos para testemunharem a esperança que os move no encontro com Jesus Cristo, nosso Senhor. É tempo de todos nós olharmos para os horizontes de nossas vidas e do mundo, e, diante de tantas dificuldades e incompreensões, gritarmos que a Vida vence a Morte, e disso nós somos testemunhas!
Que a nossa participação nos leve a viver uma Santa Semana!
Dom Orani João Tempesta, O. Cist.
Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ
Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ
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