Iniciativa conta com oficinas de liguística e vídeo para retratar os costumes e as histórias dos antepassados do povo Parkatejê
Lançada em novembro do ano passado, a iniciativa conta com oficinas para que os jovens indígenas aprendam sua língua de origem, que não estava mais sendo utilizada. Nos encontros, coordenados por duas linguistas da Universidade Federal do Pará, são registrados em textos as histórias contadas pelo cacique Tomprãmre Jõpaipaire Krôhôkrenhum. Também são ensinadas técnicas de transcrição com foco no vocabulário Parkatejê.
Foto: Anderson Dezan/iG
Índio da comunidade indígena Parkatejê mostra como usar o arco e flecha
Foto: Anderson Dezan/iG Ampliar
Crianças da tribo Parkatejê, no Pará, apontam arco e flecha para o alto de uma árvore
Livro e DVD
A meta é reunir informações sobre esse povo, como costumes antigos, localização de antigas aldeias e aproximação da comunidade com o mundo não-indígena. O resultado dessas oficinas vai virar um livro com as memórias do cacique, chamado de “capitão”.
“Os jovens relatam que com esse trabalho eles descobriram que desconheciam o seu chefe. Não conheciam muitas partes da história do seu próprio povo, das suas origens. Isso tem gerado neles o desejo de conhecer a história do próprio povo”, diz a linguista Marília Ferreira. “Estamos trabalhando na construção de um livro que já existia na mente do capitão”, completa.
Além das oficinas de linguística, os jovens aprendem técnicas de cinegrafia e captura de imagens com a ONG Vídeo nas Aldeias, especializada no registro histórico de comunidades indígenas do Brasil. Todas as histórias contadas pelo cacique e as manifestações culturais da aldeia, como danças, competições e rituais são gravados. O material vai virar um DVD, que assim como o livro, tem previsão para ficar pronto em novembro deste ano.
“Buscamos levá-los à reflexão. É um jogo de espelhos”, diz Vincent Carelli, secretário executivo da ONG Vídeo nas Aldeias. “Muitos povos indígenas perderam sua cultura por causa do preconceito do branco. Os índios eram vistos como diferentes. Eles começaram a ficar iguais aos que os criticavam e foram perdendo suas tradições”, avalia Antônio Venâncio, responsável pela relação da Vale com povos indígenas no Pará. “Hoje eles começam a enxergar a riqueza da própria cultura. Ao perder isso, o mundo está perdendo”, completa.
Jovens só querem saber de jogar futebol
Foto: Anderson Dezan/iG Ampliar
Depoimento do cacique é gravado por aluno de oficina de vídeo do projeto de resgate das tradições da tribo
Com voz firme, o cacique Tomprãmre Jõpaipaire Krôhôkrenhum se diz feliz com o resgate das tradições Parkatejê. “Meu coração fica alegre ao ver a cultura ser retomada. Estou lutando para criar o meu povo”, diz o capitão, que não sabe a própria idade – fato comum entre os membros mais velhos da aldeia. “Não quero acompanhar a lei do branco. Quero acompanhar a nossa lei”.
Segundo ele, entre as principais dificuldades para fortalecer os costumes locais – como pescar e caçar – não estão somente os avanços do mundo moderno. A lista vai além e inclui algo genuinamente brasileiro, independente da origem étnica. “Esse povo só quer jogar futebol. A maioria não sabe caçar, só quer saber de bola”, brinca o capitão, mostrando seu senso de humor.
Foto: Anderson Dezan/iG
Criança da tribo Parkatejê, no Pará, brinca com estilingue
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