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Notícia ruim não só chega antes da boa como geralmente também preferimos ouvi-la primeiro
O dito popular “as más notícias chegam depressa” existe há pelo menos três séculos e, segundo o “Dicionário de Provérbios” (Ed. Unesp) tem origem francesa. Não dá para saber se, ao longo desses trezentos anos, os infortúnios aumentaram ou diminuíram. Mas, certamente, no século 21 as notícias chegam ainda mais rápido.
Há dois anos, a assessora de comunicação Anelise Peramos passava uma temporada de estudos na Espanha quando, antes mesmo de ter a notícia da morte de seu avô, recebeu os pêsames.
“Eu estava na internet quando um parente entrou e, conversando comigo, disse que lamentava pelo que tinha acontecido. Eu fiquei sem entender, mas, quando viajei, já sabia que a saúde do meu avô estava fragilizada”, diz Anelise. Ela também conta que só depois soube oficialmente da morte, quando ligou para a mãe no Brasil. E afirma “a tecnologia ajuda, mas quando uma notícia ruim chega tão rápido, a gente se assusta.”
A notícia que voa
Maria do Carmo Marcello Iannaccone, psicóloga do Centro de Estudos Satori GT, de Campinas, afirma que “todos nós vivemos, em maior ou menor grau, um sentimento de desamparo diante das diversas formas de males. E, quando uma notícia ruim chega até a gente, é como se o fantasma se materializasse e nos colocasse em contato com esta fragilidade”.
Por serem notícias sofridas, dividi-las pode aliviar seu peso. Além disso, se a situação tiver acontecido com outra pessoa, pode ser também fruto de prazer de estar isento da situação ruim. “De forma geral, há certo alívio em saber que algo ruim aconteceu com o outro e não com a gente. Mas isso pode também levar a sentimentos de culpa e medo de que o “ruim” se volte também para a nós”, afirma o Dr. Roosevelt Cassorla, psicanalista e professor de psicologia médica da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP).
Cassorla também explica que repassar uma notícia ruim pode ser satisfatório por despertar a sensação de livrar-se da informação, confirmar que o fato aconteceu com o outro, ou apenas dar a sensação de poder, de “saber das coisas”. Além disso, saber logo sobre um fato ruim ajuda a lidar com a ansiedade e colabora para verificar como lidar com a situação. E, a possibilidade de ter uma boa notícia depois pode “compensar o sofrimento”, afirma ele.
Notícia boa ou ruim, qual você quer primeiro?
Dr. Ricardo Afonso Teixeira é neurologista e diretor do Instituto do Cérebro de Brasília (ICB), e diz que “o ser humano tem tendência a dar mais atenção a informações negativas do que às positivas. Isto acontece para ter dimensão do que pode sofrer.” Ele também explica que nesse interesse existe um reflexo arcaico da mente humana, que dá relevância ao que pode colocar em risco a perpetuação da espécie. “Por isso a maioria das pessoas responde que prefere a má notícia antes, quando pode escolher entre saber algo bom ou a ruim”, diz o especialista.
No caso do oficial de justiça Fernando Luiz Pereira, dar más notícias faz parte do dia a dia profissional. “A maior parte das pessoas já está esperando, pois sabe da situação. Uma parcela fica surpresa, acreditando que o caso já estava resolvido. E a minoria fica totalmente surpresa e desconhece. E este caso é o mais delicado”, diz Fernando. Ele ainda afirma que quase 100% das notícias que tem a responsabilidade de repassar não são positivas. “Depois de nove anos na profissão, já me acostumei com a fama de ser o ‘dono de notícia ruim’”, brinca.
Vantagem
Às vezes, a má notícia é parte do jogo e é melhor que chegue o mais rápido possível. Enquanto existem os que temem pela notícia ruim, há os que precisam dela para agir. E este é o caso de operadores da Bolsa de Valores, e Gabriel Giroldo, de Maringá, no Paraná é um deles. “Quanto mais rápido eu souber da desvalorização de uma ação, por exemplo, melhor para os meus clientes. Assim posso negociar a favor deles, comprando ou vendendo”, afirma.
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