terça-feira, 10 de maio de 2011

Praga, a outra cidade luz

Aconchegante e linda, Praga tem boa vida cultural e noite animada. E agora começa a chegar sua primeira leva de bares, restaurantes e hotéis de charme

Por Ludmila Vilar/ Marie Claire
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PRAGA
Era verão, mas o tempo estava nublado naquele fim de tarde em Praga. Mesmo assim, havia uma certa expectativa para o pôr do sol. Se o tempo ajuda, os tantos turistas que circulam nos arredores da Carlos V, a ponte que atravessa o Rio Vltava, sabem que nesse horário vão assistir a uma das mais antigas capitais europeias dar seu show. Todos querem ver o efeito da luz de fim de tarde batendo no conjunto de construções barrocas ao redor da ponte. É quando Praga fica alaranjada e ainda mais linda.
Com mais de dez séculos, a cidade tem edifícios de arquitetura gótica a moderna, e já passou de monarquias absolutistas ao domínio nazista e depois soviético. De tão linda, amoleceu até os homens do exército de Hitler e sobreviveu à Segunda Guerra sem grandes arranhões em seus prédios. Hoje, ela mistura sua beleza intocada ao charme de quem ainda não foi completamente “corrompida” pelo progresso. Os tchecos entraram no capitalismo há quase 22 anos, mas estão se adaptando a ele. Uma das vantagens disso é ainda não terem embarcado no euro. Isso faz da República Tcheca um destino mais barato do que roteiros consagrados, como Paris, Roma ou Barcelona.
Praga ainda funciona de um jeito meio artesanal. Músicos de rua, lojinhas mil de marionetes, cervejarias, cafés, os tantos palcos de teatro negro* (atores de preto, em fundo negro, manipulam objetos coloridos), vitrines exibindo roupas que fazem parecer ainda estarmos nos anos 80. Sem falar nas muitas igrejas que há tempos não veem uma missa sequer em seu altar, mas apenas belos concertos de música clássica — esse talvez seja o mais evidente resquício do período comunista (1945-1989), que proibia a religião. Enquanto o euro não vem, Praga vai lapidando seus cafés charmosos, sua noite animada, sua sofisticada vida cultural — e recebe a primeira leva de hotéis, bares, restaurantes e galerias bacanas de sua história recente.
Hradcany (onde está o Castelo de Praga, principal monumento da cidade), Malá Strana (ou Bairro Pequeno), Staré Mesto (Cidade Velha) e Nové Mesto (ou Cidade Nova) eram quatro municípios independentes até se juntarem no século 18 e originarem Praga. Seu cenário é feito por centenas de ruelas formando um emaranhado de vias perfeito para se percorrer a pé. E aí está o melhor jeito de conhecer Praga: perder-se por ela.
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Vistas
1. O café da Casa Municipal, em Praga.
2. Os músicos da Orquestra Sincopada, durante apresentação no fim de tarde, na Ponte Carlos V
QUADRO A QUADRO
Staré Mesto
Nessa região, que em português quer dizer Cidade Velha, está o que se pode chamar de coração e alma de Praga. A Praça da Cidade Velha, onde está o famoso relógio astronômico, é o ponto de partida para as ruelas medievais da região. Nelas misturam-se lojinhas e bares bacanas, como a Absintherie, onde o cardápio traz todas as modalidades da mais mítica das bebidas. Em suas prateleiras, você encontra café, bolo e até sorvete sabor absinto. Como esse há uma porção de outros endereços descolados na região. Entre os hotéis, o Sax está num prédio medieval, mas seu interior tem pitadas psicodélicas, bem anos 70. Sua proposta não poderia ser mais atual: trata-se de um charmoso hotel design com diárias acessíveis (desde 97 euros, o casal) e quartos com DVD e laptop. Quem prefere tradição, pode hospedar-se no Four Seasons, onde, além do já conhecido padrão da rede, está o Allegro e sua refinada cozinha italiana. É dele a primeira estrela dada no Guia Michelin a um restaurante dos antigos países comunistas europeus.
Bairro Judeu
Do outro lado da Praça da Cidade Velha, na esquina com a Rua Parizka, começa o Bairro Judeu. Aí, sim, o peso do capitalismo fica evidente. Entre os mais lindos prédios com fachadas art nouveau (um dos maiores entusiastas do estilo, o artista Alphonse Mucha, nasceu em Praga), há lojas como Dior, Cartier e Gucci. Elas cobram por suas peças preços semelhantes ao de qualquer outra capital do mundo. Jovens estilistas tchecos também instalaram suas butiques nas redondezas, mas ainda assim é difícil encontrar uma vitrine que comova o coração de uma fashionista. Nesse pedaço estão também os bares chiques, com decoração moderna, trilha sonora alta e garçons jovens, que poderiam estar em qualquer área rica de qualquer metrópole do mundo. Muitos desses endereços dividem espaço com pequenas galerias. Esse, aliás, é um hit na cidade. Pode ser só um cantinho com meia dúzia de fotos, quadros, esculturas ou outro tipo de arte. Mas na cidade inteira espalham-se bares que mantêm a sua própria galeria.
Malá Strana
Quando a Cidade Antiga termina e você atravessa a Carlos V, chega a essa região que desde o século 18 quase não sofreu mudanças em sua paisagem. Ruelas e mais ruelas por onde se perder vão sempre acabar num café charmoso, como o Savoy, ou num bar para curtir a noite — e aí há desde os mais chiques, como o Noi Restaurant Lounge, até os bem undergrounds. Nesses, a fumaça mistura-se a goles de cerveja tomados no balcão ou em sofás velhos em que a galera literalmente fica jogada. Aqui está também o belo prédio do século 14 ocupado pelo Mandarin Oriental. Com uma das diárias mais baratas da rede na Europa (desde 220 euros, o casal), dos quartos mais altos há uma vista linda para a Cidade Antiga. Mesmo quem não está hospedado pode (e deve!) programar um jantar no hotel. Ainda não é fácil achar em Praga um cardápio com leitura mais refinada das receitas locais, que levam (sempre) carnes e batatas. Entre as exceções, considere o Essensia, o restaurante do Mandarin. Você pode jantar ao ar livre e geralmente na companhia de gringos bem interessantes. Na região também está o Kamp Park, onde fica o Mill Wheel. Simples, com luzes acesas, mesas lotadas e regadas à cerveja Urquell, o bar atrai alternativos e também viajantes bacanas.
Cidade Nova
Seu ponto central é a Praça Venceslau. Muito da história recente do país aconteceu nesse palco. Foi onde os tchecos se reuniram para protestar contra o comunismo em 1968 e em 1989, quando o regime caiu. Nessa região, as lojinhas são mais escassas e dão lugar a grandes magazines. Na rua Rytírská, estão as mesas mais cool, ocupadas por uma moçada fashion e moderninha, como a que vai ao Café~Café. Ele abre para o almoço e funciona até de madrugada, quando ganha ares de lounge. Ainda na Cidade Nova está a Casa Municipal, um dos mais belos edifícios em estilo art nouveau da cidade. Funciona como um centro cultural e também abriga um café cujo salão é inesquecível, com pé-direito alto e grandes lustres de cristais que contrastam com a sobriedade dos móveis de madeira. Ao sentar ali, você vai sentir como se estivesse tomando um cafezinho no no século 19, em plena Belle Époque.
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Cenas tchecas
1. Apreciar a vista: poucos lugares são tão bons para fazer isso.
2. O quarto do Four Seasons.
3. O luxo chegou ao ex-país comunista, mas não corrompeu sua alma

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