Faça uma lista
Revista Seleções
Ok, eu confesso: faço listas compulsivamente.
Não listo apenas as coisas que vou fazer; listo até as que já fiz. Faço listas
dos livros que li, dos filmes a que assisti, dos mantimentos de que preciso, das
tarefas diárias, das metas de vida e dos sonhos a realizar, de estratégias
financeiras, de telefonemas que preciso dar, de projetos profissionais e até
listas de lugares que gostaria de visitar e conhecer.
Não sou a única. É surpreendente a quantidade
de pessoas que usam listas para gerenciar a vida. Fazer listas cumpre várias
funções; além de ferramenta de administração do tempo, elas também são um modo
de a gente se concentrar e organizar pensamentos e atividades. Depois, há o
sentimento de satisfação quando riscamos os itens conforme cada um deles é
abordado e resolvido.
Para alguém como eu (trabalhadora autônoma e
estudante), as listas criam um arcabouço cotidiano que torna mais fácil dizer
não às distrações e me dá uma noção de segurança e controle. Gosto de limites, e
a vida estruturada me atrai. O meu marido, ao contrário, resiste a viver à base
de listas pessoais, já que é médico e tem uma vida profissional intensa e
rigidamente controlada pelos horários do hospital.
Meu hábito de fazer listas começou quando,
ainda jovem, tinha dois filhos com menos de 2 anos, um marido estudante e duas
empresas para administrar. Claro que precisei me tornar
organizadíssima.
Normalmente, divido minhas listas em
categorias: pessoal, doméstica, social e profissional. As importantes são
escritas num caderno preto formato A4 com pautas largas para acomodar minha
letra generosa.
Nas noites de domingo, faço uma lista dos
afazeres que pretendo cumprir durante a semana. Também crio uma planilha mensal
que me permite ver de uma só vez os eventos importantes. Segue-se uma lista
específica para cada dia, com as tarefas, quando cabível, divididas em passos e
por prioridade.
Em A vertigem das listas, o escritor Umberto
Eco afirma que a mente ocidental tem predileção por classificar e catalogar. “A
ideia da lista, inventário ou registro está profundamente arraigada em nossa
civilização ocidental e muitos absorvem a prática inconscientemente, sem
deliberação nem propósito”, observa ele.
As listas parecem sintetizar o espírito da
época contemporânea: há listas das celebridades mais elegantes, dos melhores
livros para ler, dos filmes imperdíveis e dos lugares do mundo a visitar, sem
falar das onipresentes listas de coisas a serem feitas antes de
morrer.
Compilar listas pode não levar à fama, mas
ajuda a cumprir metas e a lidar com uma vida exigente. Eis algumas ideias para
começar:
Claire Jankelson, acadêmica que vive
equilibrando uma série de projetos, acha que as listas são estimulantes: “São
como mapas da mente. Como um pensamento leva a outro, desenho setas e círculos
de um item a outro, e as minhas listas começam a parecer diagramas. Nem sempre
as consulto, mas o processo de fazê-las me dá clareza e ajuda a reduzir o
estresse.”
Nathan Chanesman, empresário comercial da
Internet, usa um método mais moderno: “Faço as listas no iPhone e posso
consultá-las onde estiver. Com o avanço da tecnologia, aproveito novas maneiras
de aumentar minha eficiência. As listas me impedem de deixar as coisas para
depois e me mantêm concentrado.”
David Jankelson, médico do Hospital Saint
Vincent, de Sydney, Austrália, descreve a idiossincrasia do seu sistema: “Dobro
ao meio uma folha A4 e uso um lado para as informações sobre pacientes e o outro
para uma lista pessoal de afazeres. Risco as atividades que já fiz e, toda
semana, faço uma lista nova, transportando as tarefas não completadas.
Acrescento coisas à lista sempre que tenho um tempinho livre; é um processo
contínuo. As minhas listas são organizadíssimas e claras. E prefiro escrevê-las
à mão, embora os colegas prefiram a tecnologia.”
Lara Taibel, mãe de dois filhos que trabalha
meio expediente, se autodenomina rainha das listas: “Uso o meu celular para
fazer listas eletrônicas detalhadas. Tenho listas de compras, tarefas, agenda
profissional e atividades sociais, mas não tento fazer mais do que consigo
realizar numa semana. Para as minhas filhas, de 5 e 8 anos, digito, plastifico e
prendo na porta da despensa a lista dos compromissos delas, para que possam
verificar o que precisam levar para a escola, como livros para a biblioteca,
sapatilhas de balé e tênis de ginástica. Estimulo-as a serem responsáveis por si
mesmas.”
Os benefícios das listas
* Nos lembram o que precisamos
fazer
* Ajudam a atribuir prioridades, racionalizar
e organizar os pensamentos
* Aliviam o estresse e fazem a mente se
concentrar
* Evitam a procrastinação
* Riscar as tarefas nos dá a sensação de
dever cumprido
Como criar uma lista eficaz
* Decida onde, quando e com que vai escrever
sua lista
* Escreva num caderno só para isso ou num
equivalente tecnológico, como aplicativos de celular
* Decomponha os projetos em passos
menores
* Anote todas as tarefas que precisa
cumprir
* Dê prioridade aos passos na ordem de
importância, com os mais urgentes primeiro
* Risque ou marque as tarefas ao serem
feitas
* Destaque as tarefas não
terminadas
Listas Famosas
1. A Lista de Schindler
Filme elogiadíssimo de Steven Spielberg, com
base num romance de Thomas Keneally que ganhou o Prêmio Booker, mas
principalmente o registro linha a linha de Oskar Schindler dos mais de mil
trabalhadores judeus que ele salvou durante a 2ª Guerra Mundial.
2. A Lista do Papai Noel
Ele a verifica duas vezes! Na verdade são
duas listas – Bonzinhos e Travessos.
Certifique-se sempre de estar na primeira, só
por precaução.
3. A lista de Craig
A Craiglist, comunidade bilionária de
classificados pela Internet, começou em São Francisco em 1995 como simples lista
de e-mails. Ficou famosa pelos “serviços eróticos”, hoje rebatizados como
“serviços para adultos” e atentamente monitorados.
4. Dez Mandamentos
Há várias versões, mas a essência (não matar,
não roubar, não cometer adultério etc.) faz dela talvez a lista mais famosa, que
já foi gravada em enormes placas de pedra, quebrada, refeita e guardada numa
arca folheada a ouro no alto de uma montanha.
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